UNO Julio 2015

Papel do Foro iberoamerica nas relações intercontinentais

 

O Foro Iberoamerica, criado no ano 2000, foi resultado do interesse de um grupo de líderes formadores de opinião, empresários, políticos, representantes dos principais grupos de comunicação, e intelectuais decididos a promover a reflexão e o debate sobre os mais importantes desafios que são comuns à América Latina, Portugal e Espanha, a chamada Ibero-América. Sua preocupação central é a preservação da cultura ibero-americana num mundo globalizado.

A Ibero-América é uma região geográfica que compreende os três países da Península Ibérica (Portugal, Espanha e Andorra) e os da América Latina hispanófona e lusófona por afinidade histórica, cultural e linguística.

O termo Ibero-América, formado a partir das palavras Ibéria e América, é utilizado para designar o grupo de países formado por Espanha, Portugal e as nações americanas independentes que foram antigas colônias destes países.

A complementaridade a partir das próprias diferenças talvez seja a grande promessa para o fortalecimento da ideia de um bloco ibero-americano neste século

As nações ibero-americanas integram a Comunidade Ibero-Americana de Nações, que anualmente realiza uma conferência em que comparecem os chefes de estado e de governo dos países ibero-americanos.

O Presidente Enrique Peña Nieto, na última dessas reuniões em Vera Cruz em dezembro de 2014, explicitou com muita clareza a importância desse conjunto de raízes.

“A Ibero-América é o resultado da nossa história partilhada e reflete nossas raízes, nossos valores e nossa cultura. Os vínculos profundos que nos unem tornam a Ibero-América um espaço privilegiado para o diálogo e para a cooperação.

Sem dúvida, a região Ibero-Americana tem um modelo de cooperação inovador que se ergueu como exemplo para o mundo. Este modelo, juntamente com os 32 programas, iniciativas e projetos que se desenvolvem nas áreas da cultura, coesão social e do conhecimento, são considerados como experiências pioneiras e referências valiosas por numerosos países e organismos internacionais”.

Desafios da América Latina

O que se convencionou abrigar sob o conceito de América Latina ao longo dos tempos mais recentes vem demonstrando que não só por suas origens, como também pelas características de cada um de seus países, temos sensíveis diferenças de comportamento – mesmo na gestão de nossas economias ou no processo político-institucional. Ainda assim, apesar da diferença de nosso idioma, estamos unidos por valores que compartilhamos e que nos mantêm unidos.

O mesmo se aplica quando falamos da Europa ou Comunidade Europeia, com mais de 25 países, com diferentes línguas e estágios de desenvolvimento econômico. Ainda assim, fala-se costumeiramente em forma generalizada da Europa como se fala de América Latina, como se tivessem comportamentos assemelhados.

Também na comunidade Ibérica são sensíveis as diferenças entre Portugal e Espanha sob os mais diferentes aspectos.

Apesar das diferenças que existem entre nossos países, inclusive dentro da própria América Latina e nossa relação diferenciada com os países ibéricos, ainda assim não tem faltado motivação agregadora entre nossos países.

Podemos observar grande aproximação de natureza cultural, política e econômica. Nos últimos anos, a participação de empresas espanholas, adquirindo ou participando em empresas brasileiras, tem sido marcante, bem como, em menor escala, de corporações lusitanas. Neste contexto, o Brasil vem concentrando suas atenções e investimentos num momento mundial de profundas transformações.

Duas línguas principais (português e espanhol), aliadas a uma multiplicidade de tradições culturais, expressões e pensamentos distintos – e, ao mesmo tempo, complementares – caracterizam um conceito em permanente construção.

A complementaridade a partir das próprias diferenças talvez seja a grande promessa para o fortalecimento da ideia de um bloco ibero-americano neste século. Bloco de proporções gigantescas: 400 milhões de pessoas em extensos 18 milhões de km². Muitos aspectos em nossos países, e também sobre o que os separa, tem sido o ponto de partida para qualquer análise.

Desafios comuns, histórias de evolução compartilhadas e perspectivas de desenvolvimento acelerado marcam este momento social ibero-americano

Desafios comuns, histórias de evolução compartilhadas e perspectivas de desenvolvimento acelerado marcam este momento social ibero-americano. A crise financeira que assolou fortemente os representantes europeus do bloco nos obriga a visualizar a Ibero-América buscando apoio entre seus pares em busca de soluções compartilhadas.

Continuamos trabalhando em uma perspectiva de amadurecimento das ideias por parte dos próprios ibero-americanos e, gradativamente, aprofundando os laços não apenas históricos, mas também sociais, econômicos e políticos entre todos os seus integrantes no mundo, que é cada vez mais complexo e globalizado.

Várias iniciativas vêm sendo tomadas para intensificar as relações multilaterais entre América Latina e países ibéricos, seja através de associações de fins políticos, culturais ou econômicos. O Foro Iberoamerica se insere nesse contexto ao realizar reuniões anuais com temática variada e sempre buscando colocar em discussão temas relevantes para os diferentes países. A próxima reunião será em outubro em Barcelona e os temas centrais estão ligados ao ‘Papel da TI (Tecnologia da Informação)’ e ‘A comunicação no séc. XXI’ e terá seu início exatamente no ‘Dia de la Hispanidad’.

Roberto Teixeira
Fundador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e membro do Conselho Empresarial da América Latina e do Foro Iberoamerica / Brasil
Economista. Criou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), onde ocupou o cargo de presidente até 1979. Em 1980, assumiu a presidência da Brasilpar e lá permaneceu até 1996. É fundador do CEBRI - Centro Brasileiro de Relações Internacionais e conselheiro do Grupo de Acompanhamento da Conjuntura Internacional da USP (Universidade São Paulo). Hoje preside o Conselho de Administração da BRIX Energia e Futuros S.A. e a Câmara de Arbitragem da Bolsa de Valores de São Paulo. É também membro do Conselho de Empresários da América Latina (CEAL) e participa ativamente do Foro Iberoamerica. [Brasil]

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